sexta-feira, dezembro 29, 2006

Está o concelho de Alcobaça em risco de desmembramento?

O comentário do nosso amigo Nabais, na sua essência, reflecte este sentimento que acredito que, cada vez mais, percorre os pensamentos de muitos munícipes. O concelho de Alcobaça é um dos maiores do país em área territorial, mas padece de um centro administrativo com fraca capacidade centralizadora. O centro do concelho é assumido pelo registo histórico da abadia cisterciense e não pelo desenvolvimento económico ou por um crescendo demográfico. Alcobaça, até ao aparecimento da A8, vivia inclusivamente num isolamento relativamente às principais infra-estruturas rodoviárias. A situação, até à construção do tão aguardado IC9, continuará a ser incompleta.
A rede rodoviária municipal, impecavelmente asfaltada, assume-se como um factor que aguça a fraca coesão local. Localidades como Pataias, Alfeizerão, Benedita, São Martinho do Porto, Moleanos, estão mais perto das sedes de outros concelhos do que de Alcobaça. Se a estas localidades do nosso concelho juntarmos as freguesias e lugares que lhes são satélites ficamos com um confuso panorama geo-estratégico local.
Naturalmente que os outros concelhos se apercebem desta realidade e, em benefício próprio, percebem a potencialidade de desenvolver parcerias e colaborações, como o está a fazer Caldas da Rainha com a Benedita.
Ao melhorar a sua ligação rodoviária com a Benedita, Caldas da Rainha consegue encurtar distâncias e, principalmente no comércio, assumir-se como a “central de compras” para o apetecível mercado da Benedita… e Turquel. Em oposição o comércio de Alcobaça definha e as temáticas de negócio tendem a centralizar-se em exclusivo na oferta para o turismo: cafetarias e lembranças. A ligação de Caldas e Benedita já tem os seus resultados com o Mercado de Santana que atrai milhares de pessoas bem para a fronteira dos dois concelhos… só que do lado de Caldas. Acordámos tarde e tivemos de apostar em Pataias. São estas pequenas oportunidades que Alcobaça vai perdendo consecutivamente porque vive numa letargia de rico falido que acha que apenas o apelido ou a mudança de conjuntura será suficiente para resolver os problemas do presente. Esta incapcidade de antecipar os desafios e ganhá-los faz com que os nossos políticos locais prometam e depois não cumpram ou protelem até que se perda o timming. Não esqueçamos que Gonçalves Sapinho, na última campanha eleitoral, assumiu a ligação rodoviária à Benedita como uma prioridade deste mandato. Veio tarde a ambição e ainda mais tarde virá a obra.
O cenário actual e futuro não será favorável a Alcobaça e o desenvolvimento comercial será particularmente difícil face à alteração de hábitos de locais e à perda de atractividade da sede do concelho. Freguesias como Casal Pardo, Cela e até a Vestiaria recorrem cada vez mais às grandes superfícies das Caldas da Rainha! Naturalmente continuam a existir possibilidades de comércio em Alcobaça, mas garanto-lhes que um investidor terá de pensar mais a sério, fazer mais contas e estudos de mercado do que se quiser investir noutros locais. Simplesmente porque não temos um clima económico favorável.
Neste momento para Alcobaça ganhar uma nova centralidade tem de ter capacidade de ir ao combate pelo investimento empresarial, porque aí ainda podemos disputar o terreno com concelhos como Caldas da Rainha ou Rio Maior. Atraindo empresas e o consequente emprego veremos se funciona o ciclo virtuoso que se reflecte no aparecimento de serviços.
A questão é sempre a mesma: somos humildes e vamos à luta? Olhamos para o investidor como alguém a quem estamos a fazer um favor? Encaramos a relação com os outros concelhos como uma saudável "coopetição"?
Os estudos não criam climas económicos favoráveis, mas as políticas podem ajudar.
Não nos esqueçamos que aquela que é a maior das reformas a relaizar no país qualquer dia terá de ser feita, nessa altura quem não se preparou será alvo de profundas transformações. Surgirão polémicas, mas os que não se preparam não terão a força do pragmatismo da política e da economia. Falo da Reforma Administrativa.
As rodovias são apenas mais um dos desafios que compõem este cenário difícil em que Alcobaça se encontra, melhor…. Em que Alcobaça se deixou encontrar. Pessoalmente aquilo que mais quero é que as pessoas vivam bem e que procurem as oportunidades que lhes garantam esse bem-estar.
Mais uma vez vamos falar de prioridades e da necessidade de Alcobaça ganhar o seu espaço. Deixo aqui alguns dos desafios para o futuro:
- Educação: absolutamente fundamental. Alguns concelhos do Oeste já têm projectos educativos municipais. Para isso temos de perceber qual a lógica de desenviolvimento que queremos para depois trabalhar a oferta, por exemplo, no ensino profissional.
- Novas tecnologias. O sucesso de algumas localidades em Espanha deve-nos fazer reflectir com a correcção de apostas massivas em áreas como o turismo para as novas tecnologias… foi o caso de Málaga. Numa área tão competitiva temos de saber exacatamente o que queremos e qual o nicho a atacar.
- Cultura. Continuamos a ter um grande potencial a nível de recursos humanos, mas não possuímos infra-estruturas que o acompanhem. A situação pode mudar ligeiramente com alguns novos equipamentos, mas não será suficiente. A minha prioridade, neste domínio, seria a aposta nas indústrias criativas. Casar a cultura com as novas tecnologias e fazer dos espaços locais (como o Mosteiro) um laboratório de novos projectos direccionados para a interpretação turística e cultural.
- Continuo a não perceber como Alcobaça não tem um museu da faiança!
Precisamos de projectos que gerem conteúdos culturais que abasteçam áreas como a seguinte…
- Turismo. É uma área vital para a economia local. Mais uma vez acordamos incrivelmente tarde perdendo por completo o efeito inovação e arrancamos numa lógica de multiplicação quando deveria ser de diferenciação. Falo do golfe. O conceito emergente é este: Turismo de Experiências. Falaremos do assunto futuramente…
- Humildade. Esta é a área onde mais temos de trabalhar. Desculpem a ironia, mas temos de ser capazes de olhar para os outros sem um certo desdém que nos atinge frequentemente. Os concelhos circundantes são agressivos (no melhor dos sentidos) e por isso antecipam e apresentam resultados. Isto é válido quer para uma estrada para a Benedita, quer para a captação de investimento estrangeiro.
Quanto à pergunta do título… sinceramente acredito que sim. O desmembramento administrativo será difícil porque sabemos as resistências a uma reforma administrativa séria em Portugal, mas a nível da relação dos munícipes com o concelho não tenho dúvidas que estamos a caminhar em direcções divergentes. E isto é tão importante para o nosso dia-a-dia como a delimitação cartográfica do concelho.
P.S. Só queria pegar no comentário do nosso amigo Nabais e já vamos com este post enorme… Abraço a todos e um excelente Ano Novo. 2007 poderá ser melhor que 2006, assim o queiramos todos!

7 comentários:

Alcobacense disse...

Parabéns! Excelente post Miguel!
Concordo a 100%.

José Alberto Vasco disse...

Penso que esse "desmembramento" do concelho de Alcobaça não constitui um grande problema. Antes pelo contrário! Defendo até já há alguns anos que as freguesias de Alfeizerão, Benedita, Pataias e S. Martinho do Porto se deveriam mudar para outros concelhos (novos ou não). E não acho que isso seja um desmembramento, preferindo chamar-lhe Racionalização do Concelho de Alcobaça. Defendo que a freguesia de Alcobaça seria a principal beneficiada com essa Racionalização, dado que essa corajosa revolução administrativa proporcionaria que Alcobaça voltasse a ser a maior freguesia do concelho. Provocando também que os alcobacenses fossem forçados a perder os vícios de "Marquês falido" a que o Miguel alude no seu post. Curiosamente, essa "minha" ideia não tem nada de especial, dado que os próprios estudos da Eurostar há vários anos que defendem que a dimensão estrutural de cada concelho da chamada Europa civilizada não deveria enquadrar mais de 21.000 habitantes, ou seja, cerca da terça parte da actual dimensão do conceho de Alcobaça...

capeladodesterro disse...

Obrigado pelos elogios amigo Alcobacense. Agradeço também a referência no seu blog.A blogosfera alcobacense não para de me surpreender. Estando fora por alguns dias quando regressei às "lides" deparei com uma efervescência extraordinária. O seu contributo continua fundamental!

capeladodesterro disse...

O José Alberto Vasco fala com uma clareza que me agrada bastante! Naturalmente que um homem que escreve o que acabou de escrever sabe que qualquer envolvimento na política local estaria irremediavalmente perdida com o seu comentário, com a excepção da Junta de Freguesia de Alcobaça!
Agora a sério... é uma abordagem radical que me parecer ser mais funcional na teoria que na prática.
Digo-o sem grandes fundamentos talvez de uma forma emotiva. Parece-me que estaríamos a reduzir a escala, mas para mim o principal problema é a competência de quem nos gere. Há concelhos maiores e que se revelam funcionais.
O tema é realmente muito interessante também porque a política administrativa do país é completamente errante... o PS prepara-se para alterar o modelo anterior... do PSD. Esta, aliás, deveria ser matéria de consenso entre os principais partidos...

José Alberto Vasco disse...

Prezado Miguel: quem me conhece sabe que não procuro "qualquer envolvimento na política local". Se o pretendesse, já há muito tempo que o tinha feito. Convites para isso não me faltaram... O problema é essencialmente meu- sou muito esquisito e tenho ideias muito marcadas sobre a vida política. Uma delas é a de que, no actual enquadramento. as Juntas de Freguesia não têm qualquer tipo de utilidade ou razão de existir...
Quanto ao resto, continuo confiante de que a nossa política administrativa será profundamente alterada, no máximo de uma década, e que o país entrará então definitivamente no "Caminho da Civilização". Continuo fã do tal modelo administrativo do PSD, ou melhor escrevendo, do actual deputado e antigo Secretário de Estado Miguel Relvas, e não acredito que o PS o consiga alterar muito... Melhores dias virão. Tenhamos esperança!

Anónimo disse...

olá amigo! então que é feito de si?
perdeu o píu?...isso é mau prás n/hostes.Quando é k sai alguma coisa? estamos há espera! Um abraço.

capeladodesterro disse...

Agradeço a força, mas é uma altura complicada para novos escritos sobre Alcobaça... Está muita coisa em lista de espera (daquelas com que ganhamos a vida!). Terá de ser num qualquer instante de inspiração ou transpiração!