quinta-feira, outubro 27, 2005

Autárquicas em Alcobaça

Vitória em toda a linha do PSD. Esse é o facto incontornável. Pessoalmente valorizo sempre mais o mérito de quem ganha do que o demérito de quem perde. No entanto, numa análise dos resultados, ambos os factores devem ser equacionados.
Foi uma vitória de Gonçalves Sapinho e do PSD local, em grande medida porque souberam transmitir uma imagem de proximidade com os problemas das pessoas que a candidatura do PS, num desenfreado megalomanismo, não conseguiu. A actuação política do actual executivo reflecte uma visão paradoxal do poder autárquico que faz escola na maioria dos portugueses. Há uma linha de gestão farónica, de grandes obras públicas, onerosas e muitas vezes mal programadas, e uma outra linha de gestão do quotidiano ou de quintal. Ambas continuam simbolizar o poder autárquico um pouco por todo o país.
No caso de Alcobaça, não ouvimos um Projecto para o desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento. O desenvolvimento do sector industrial continua remetido para as discussões estéreis sobre as áreas de implantação industrial e o comércio está reduzido aos poucos metros quadrados das lojas para turistas. Não houve uma apresentação de projectos pensados e planeados. Sapinho marcou pontos nos assuntos do quotidiano e quando lança a necessidade de uma nova ligação rodoviária de Alcobaça à Benedita. Muitos já tinham falado disso, mas nenhum é neste momento Presidente da Câmara Municipal! A presença esmagadora do PSD nas Juntas de Freguesia é também um facto muito importante. Sem querer fazer extrapolações de resultados eleitorais distintos, convém referir que nas últimas eleições legislativas o PS conquistou 11 freguesias. Nem todo o concelho é a Benedita, onde ganha sempre o PSD. Este aspecto só dá mais força à vitória do PSD.

Inegável é a derrota do Partido Socialista. Conseguiu ter menos 1800 votos do que nas anteriores autárquicas, já de si desastrosas. O PS fica abaixo dos 20% e apenas consegue um objectivo, continuar a ser a segunda força política do concelho. O PS consegue inclusivamente “perder” o seu actual vereador António José Henriques, que parece estar cada vez mais próximo de Gonçalves Sapinho! Da derrota do PS este será apenas o facto mais controverso e que só o vereador mencionado poderá esclarecer, no entanto tudo o resto é muito claro.
Depois deste resultado, em qualquer estrutura partidária do país, só existiria um caminho: o líder apresentar a sua demissão e o partido entrar numa profunda reflexão. Depois de uma década do mesmo executivo camarário como possível que o PS não tenha conseguido capitalizar nenhum retorno político? O cenário laranja atingiu as juntas de freguesia com uma força de tal ordem, que só a Maiorga resistiu! O PS não tem uma estratégia para o concelho que os seus habitantes reconheçam como credível, logo exequível. O seu líder estuda os dossiers, mas não consegue ser a segunda força política da sua área de residência e onde à partida deveria ser o seu terreno mais forte. Daniel Adrião é um homem marcado pelos ritmos tropicais, para quase todos os alcobacenses, o Carnaval que idealizou e realizou foi um fenómeno, mas no sentido de efémero da palavra. Essa imagem parece-me que se difundiu ao próprio candidato. Se o seu objectivo ou ambições passam pela conquista da presidência da Câmara Municipal ou muda radicalmente de estratégia fortalecendo a sua imagem ao nível de competência técnica e realização ou aguarda pacientemente que o poder esmagador do PSD no concelho se vá fragilizando, em virtude de um certo autismo que sempre acontece nessas cirunstâncias. No entanto, esta parece-me uma táctica arriscada, pois mesmo que essa seja a vontade do líder, dificilmente será a vontade dos militantes socialistas locais.

O efeito Rogério desvaneceu depois dos resultados animadores de 2001. As aspirações da CDU eram ambiciosas e quase foram atingidas: suplantar o PS como segunda força do concelho. Rogério Raimundo continua a somar aos votos do seu eleitorado tradicional, os votos dos críticos do actual executivo camarário, mas não consegue descolar em direcção ao eleitorado do centro que lhe reconhece méritos, mas que se revela incapaz de enfrentar o trauma vermelho. A sua campanha tem imaginação, mas continua execessivamente centralizada na figura de Rogério Raimundo. Falta, na minha opinião, uma estratégia que leva à identificção da CDU com uma equipa de pessoas, com competências técnicas diversias e claramente atribuídas. Só assim a CDU conseguirá criar um projecto e uma dinâmica que tem vindo a perder.

Uma palavra para os partidos mais pequenos. O CDS-PP marcou presença em circunstâncias internas muito difíceis, fruto da dedicação do seu candidato, mas revelou uma dignidade de enaltecer. Longe da espuma da discussão, dos cartazes e jantares de centenas de pessoas, definiram um objectivo modesto e apostaram na área do concelho onde são mais fortes. Saem de cabeça levantada e respeitados enquanto pessoas.
O Bloco de Esquerda, de quem se esperam resultados surpreendentes, teve resultados modestos, que revelam que não houve tempo para criar uma campanha, um programa e para agitar a sensibilidade dos habitantes do concelho. Escolheram um alvo importante, o Ambiente, mas não conseguiram dinamizá-lo e torná-lo numa referência incontornável da campanha. Isso para um partido como o Bloco de Esquerda, mesmo que a nível local, tem sempre de ser um obectivo.

P.S. Não acham estranho que só depois das eleições, um jornal local tenho publicado uma notícia sobre as investigações da Polícia Judiciária aos procedimentos que culminaram na obra do Rossio?

1 comentário:

capeladodesterro disse...

Concordo a 100%!
Onde ficou a discussão sobre conceitos tão fundamentais como os relativos às "cidades/territórios do conhecimento"? Porquê esta discussão desgarrada sobre o Mosteiro? Onde está o debate, as ideias e os projectos sobre o Património ou como prefiro, Ambiente Histórico? Já passaram algumas por este espaço, mas enfim... Não desisto e não será pelo meu descanso mental que deixarão de surgir contributos... bons e maus! Aparece sempre LD